sábado, 6 de janeiro de 2018

EFEITOS DA PARALISIA CEREBRAL

A Paralisia Cerebral é diagnosticada pelos efeitos que ela causa nos indivíduos. Sendo assim, o diagnóstico pode ser feito pela observação das disfunções (problemas) motoras características da região piramidal, da região extrapiramidal ou pela topografia dos prejuízos que os indivíduos apresentam.

1- AS DISFUNÇÕES MOTORAS NA REGIÃO EXTRAPIRAMIDAL

Entende-se por disfunção o mau funcionamento dos músculos que atuam nos movimentos provocados por uma lesão. Essa disfunção depende do tamanho da lesão (grande ou pequena). Motora, porque se referem aos movimentos. Logo, por serem provocados pela lesão variam, os movimentos são anormais e involuntários. A maioria desses movimentos não provocam dores como muitas pessoas acreditam. 

Como já vimos, a região extrapiramidal são os caminhos antes e depois de sua junção, chamada de “pirâmide”. São eles:

a) as atetoses – que são movimentos lentos, contorcidos e com tremor nos dedos. Podem acontecer nas mãos e/ou nos pés. Em alguns casos, pode-se perceber esses movimentos também nos braços, pernas, pescoço e língua.


b) as ataxias – é a falta de coordenação dos movimentos voluntários e do equilíbrio que influencia no desempenho funcional. Este movimento aparece em 88% dos casos da PC.
c)  coreia  ou choreia – é um movimento desordenados e rápidos assemelhando-se a uma dança. 

d)  os espasmos, espásticos ou hipertônicos – causam um aumento do tono muscular, ou seja, ficam enrijecidos.

e) os mistos – Qualquer um desses tipos de movimentos pode aparecer em conjunto com outro.

f) os distônicos – são os movimentos que sofrem contrações involuntárias e são repetitivos. Apenas os movimentos distônicos podem produzir dores em certas partes do corpo, pois obriga o indivíduo a certas torsões ou posturas inadequadas.
Estes movimentos perduram pela vida a fora.


2- TOPOGRAFIA DOS PREJUÍZOS NA PESSOA

A localização exata da lesão é chamada de topografia. Como já vimos, a localização da lesão pode estar antes ou depois da “pirâmide”; dentro dela, no cerebelo ou no SNC (Sistema Nervoso Central. Dependendo dessa identificação, é preciso conhecer a extensão da lesão e a(s) área(s) afetada(s).  Por prejuízos entende-se os membros e órgãos afetados, ou seja, paralizados. Esses prejuízos podem ser:

a) a hemiplegia - é a paralisação dos membros, sendo os mais comuns o dos membros superiores. A hemiplegia sempre vem acompanhada de movimentos espásticos (espasmos) e da hiperreflexia (exaltação ou exagero nos movimentos). Essa reação é involuntária e revela que a lesão se encontra antes da região piramidal.
pés equinovara

Na hemiplegia, os membros superiores e os inferiores ficam semiflexionados. As pernas podem ficar hiperestendidas, os pés assumem a postura equinovara (pés voltados para dentro e dedos muito flexionados em arco) e pode aparecer um reflexo, no qual os dedos do pé se estendem e se abrem em forma de leque. Este reflexo é conhecido como Reflexo ou Sinal de Babinski.

O Reflexo de Babinski é um reflexo plantar (da sola do pé) que indica lesão na medula espinhal (nos cordões nervosos que formam o Sistema Nervoso SNC. Suas causas podem ser: anemia perniciosa, anestesias, ataxia de Friedrich, acidente vascular cerebral (AVC); encefalopatia hepática, esclerose lateral amiotrófica (ELA), hipóxia. meningite, traumatismo craniano, poliomielite dentre outras.

b) a hemiplegia bilateral – é a paralização que ocorrer com os membros do mesmo lado do corpo, ou seja, com o braço e a perna do lado direito ou do lado esquerdo.

c) A quantidade de membros paralisados recebe a seguinte classificação:
·         monoplegia - um só membro (superior ou inferior)
·         diplegia – dois membros, podendo ser os dois braços, duas pernas ou um braço e uma das pernas. Ocorre em 10 a 30 % dos pacientes, sendo a mais comum em prematuros.
·         triplegia – três membros afetados podendo ser os dois braços e uma perna ou as duas pernas e um dos braços. 
·         tetraplegia ou quadriplegia – os 4 membros são afetados. Ocorre de 9 a 43% dos pacientes. A lesão é difusa e bilateral no sistema piramidal, com tetraparesia espastica com intensa semiflexão


Dependendo do tamanho da lesão, outras áreas podem ser afeitadas e é o que chamamos de comorbidades:

BOCA – o indivíduo pode ter os movimentos da boca afetados, causando a:
·     Dificuldade com a fala – a fala fica comprometida quando os músculos da boca estão afetados. Os problemas com a linguagem vão desde a dificuldade de pronunciar certas letras, ou palavras até a dificuldade completa da comunicação (afasia).

·    Disfagia, ou seja,  dificuldade em mastigar e engolir. É um obstáculo físico à passagem dos alimentos pela região orofaríngea porque os músculos ficam paralisados. Acrescenta-se ainda a dificuldade de cerrar os lábios e de controlar a saliva.

FARINGE – ocorre o atraso ou a inexistência dos movimentos que levam o alimento até o estômago. É conhecido como parésia dos músculos faríngeos. O termo parésia vem do termo paralisia.

ESTÔMAGO – ocorre a dificuldade encontrada nos músculos do estômago. É conhecida como parésia dos músculos estomacais.

OLHOS -  ocorre quando a lesão alcança a região dos olhos e é muito comum na paralisia cerebral. Pode causar desde a baixa visão, a perda do campo visual num dos lados do corpo contrário ao da lesão de um ou nos dois olhos, devido a um dano na artéria cerebral. Isto significa que a região da lesão se encontra no cerebelo. É conhecida como hemianopsia. Pode ocorrer também o estrabismo.

NOS MEMBROS - E conhecida como hipoestesia. É uma diminuição da sensibilidade ao toque (espécie de adormecimento) em determinadas partes do corpo, devido a hipotrofia dos segmentos. Essa insensibilidade pode ser térmica, dolorosa ou profunda.

DEFICIENCIA INTELECTUAL - Ocorre de 30 a 70% dos pacientes. Está mais associada às formas tetraplégicas, diplégicas ou mistas. Em muitos indivíduos que foram criados com superproteção, tem-se a impressão que são deficientes intelectuais. No entanto, não são embora haja uma deficiência intelectual, pode ocorrer um rebaixamento intelectual, devido aos pais, parentes e outras pessoas próximas que os acostumam a fazer tudo para eles, por eles e no lugar, gerando com isto uma acomodação.

EPILEPSIA - Varia de 25 a 35% dos casos, ocorrendo com a forma hemiplégica ou tetraplégica.

DISTÚRBIOS DO COMPORTAMENTO: comumente ocorre com as crianças com inteligência normal ou limítrofe. Sentem-se frustradas devido às limitações motoras, agravadas pela superproteção ou rejeição familiar.

DISTÚRBIOS ORTOPÉDICOS: mesmo submetidos à reabilitação, são comuns as retrações das fibras dos tendões em 50% dos casos. Em 15% dos casos, há a presença de cifoescoliose, ou seja, cifose + escoliose, e/ou a presença da coxa valga.

A cifoescoliose é caracterizado por um deslocamento ou desvio que atinge a coluna vertebral na altura do tórax. É o chamado “corcunda”, uma curva anormal dessa região. A consequência é uma postura inapropriada da coluna vertebral, o que provoca um desgaste progressivo da cartilagem intervertebral. É a mais comum.


Por outro lado, pode haver a coxa valga. Esta é uma deformidade congênita dos ossos que formam a “bacia”. Neste caso, o fêmur não se alinha com o eixo do corpo de forma normal, forçando os joelhos a voltarem-se para dentro. E também conhecida como “perna de vaqueiro” (Brasil). A coxa valga atinge 5% dos casos de Paralisia Cerebral.

Muitas pessoas com Paralisia Cerebral também apresentam a hipomímia, ou seja, a diminuição da capacidade de se expressar por gestos ou pela expressão facial.

É preciso reafirmar que há diferenças entre os portadores de Paralisia Cerebral. Essas diferenças dependem da intensidade do distúrbio.  Isto significa que para umas pessoas o distúrbio é mais leve, para outras é moderado e para um terceiro grupo o distúrbio é severo. E mesmo nestes níveis ainda há gradações. Os menos afetados podem ser mais facilmente recuperados e adaptam-se à vida com mais facilidade. Já os mais comprometidos as chances de recuperação e de adaptação diminuem sensivelmente. 


CONTINUA