sexta-feira, 29 de setembro de 2017

NEM TUDO SÃO FLORES

Enquanto as coisas com o garoto com Paralisia Cerebral caminha, vamos agora ver o que se pode fazer com um Down de 10 anos, cursando o 5º ano da escola pública e com sérias dificuldades. O motivo para o encaminhamento para o trabalho psicopedagógico feito pela escola se deve ao fato de que ele irá para o 6º ano (fato já determinado) e como terá muitos professores... deduz-se que ninguém sabe o que fazer com ele. Por esse motivo, fui procurada pelos pais e  trabalho com ele há pouco tempo.

Logo na avaliação inicial  já deu para perceber que, além da deficiência intelectual e da hipotonia (musculatura flácida) característica desta síndrome, ainda apresenta muitas outras dificuldades. Por exemplo, apresenta: 

a) dificuldade de comunicação verbal - sua fala é truncada e enrolada dificultando a compreensão do que ele quer expressar. 

b) dificuldade na coordenação motora grossa - embora ande e corra com as pernas abertas lateralmente e salte apenas com os pés juntos. Ele  faz isso para manter o equilíbrio por conta de problemas motores generalizados.

c) dificuldade na coordenação motora fina - é bastante deficiente. Escreve muito claro, mas tem boa apreensão em todos os dedos, do lápis e de coisas grandes e pequenas.


 

d) dificuldade de atenção e concentração - sua atenção e concentração é dura poucos segundos. Acha tudo interessante, mas logo se dispersa.

e) dificuldades visuais - além da miopia e do astigmatismo, não mantém o olhar sobre o que está fazendo. Por isso, não percebe detalhes seja de cor, forma, tamanho, posição, etc.


f) Quanto ao grafismo - ainda se encontra na fase dos rabiscos desordenados. Gosta  Seus círculos se fecharam recentemente porque ainda mantém alguns abertos. Por isto, ainda não consegue escrever, desenhar, cobrir pontilhados etc.

g) nível de intelectualidade - bem abaixo do padrão para uma criança de 10 anos (idade que possui) e pouco conhecimento de mundo. Muito infantilizados.

h) temperamento voluntarioso - é altamente resistente, principalmente em relação a letras e números. O que ele não gosta ou não quer fazer, ele atira ou derruba. E no caderno, quando ser acha difícil ou não saber fazer, rabisca.

COM RELAÇÃO ÁS TAREFAS ESCOLARES


 


a) identifica algumas letras (as vogais e as cinco primeiras consoantes). 

b) identifica os algarismos de 1 a 9, mas não faz a correspondência com as quantidades que representam, nem efetua a contagem delas.

c) desconhece a maioria dos conceitos básicos, sabendo apenas o que algo grande ou pequeno. E os outros? Esses conceitos são essenciais para a aprendizagem escolar.

Observando seu material escolar, observei que as tarefas estão PERFEITAS. Suas lições são compostas de 1 folha (por dia) com 4 ou 5 palavras chave, escritas com linhas pontilhadas e cuja cobertura estão religiosamente muito bem traçadas e que foram coladas no caderno posteriormente. Embaixo de cada uma, a nota: "feito com ajuda". O que nos leva a supor que, em algum momento da aula, a professora tenha pego em sua mão para traçá-las. Não vi, no caderno, exercícios referentes a numeração, contagem, contas simples ou mais complexas. 


JOGOS E BRINCADEIRAS

São poucos o jogos de que gosta e que faz sua concentração se ampliar um pouco mais (1 ou 2 minutos). 

a) Consegue montar quebra-cabeças com poucas peças e com apoio visual, mas ainda assim, viradas ou colocando peças fora do lugar. Como não percebe as formas direito e outros detalhes (cor, tamanho, posição) de continuidade, sem esse apoio, força as peças com formatos diferentes para que se encaixem. Como não consegue, as esmurra ou as atira para longe sem buscar uma outra alternativa.

b) Tem aversão por algumas texturas, como areia, substâncias molengas (geleca). Mas aceita a massa de modelagem, acredito que, por ser mais consistente. Mas só a rola sobre a mesa, sem construir nada.

c) Em jogos com bola, gosta de chutá-la e correr atrás como fazem todos os meninos de sua idade. No entanto, faltam-lhe outras habilidades, como por exemplo, agarrá-la com as mãos ou de atirá-la na direção de seu parceiro de jogo. Essa habilidade depende essencialmente da observação da trajetória da bola e a utilização de reflexos, como o de esticar o braço na sua direção e de fechar as mãos quando a passar ente elas . Mas como não olha para o que faz, essas habilidades não foram desenvolvidas.

Será um trabalho bem difícil. "Ossos do ofício", _ dirão alguns leitores. Mas se repararmos bem, são os mesmos "ossos" enfrentados pelos pais e professores desta criança. 

Por onde começar? Esta é uma pergunta que todos os psicopedagogos fazem a si mesmos cada vez que inicia um trabalho com uma criança, principalmente se as dificuldades forem dessa magnetude.
Continua