quarta-feira, 9 de novembro de 2016

A PARALISIA CEREBRAL E OS REGISTROS POSSÍVEIS

Quando se tenta alfabetizar uma criança ou jovem com Paralisia Cerebral achamos que é impossível que ele aprenda a ler e a escrever. Mas é possível sim. Basta um pouco de paciência, observação e dar um pouco de atenção a eles, que descobrimos um meio de alfabetizar e receber respostas a ela. E já que a escrita é impossível no momento, precisamos encontrar alternativas diferentes para se trabalhar com esses alunos.


Começo com exercícios específicos de Coordenação Motora para estimular a mão ativa. Depois disso, passamos para o caderno, com exercício de cobrir pontilhado na horizontal e na vertical. 

 

Estes exercícios mostram a capacidade para ligar um termo ao outro e esta é uma das formas de resposta que os alunos podem dar no início da alfabetização, mesmo que os traços não sejam perfeitos.

O grande problema para os que tem baixa visão é saber se conseguem observar detalhes, item importante para a alfabetização. Ao pedir que circule a figura diferente, podem ou não mostrar uma outra forma de respostas para o trabalho alfabetizador. E no caso do garoto em atendimento, isso ainda não é possível, pois suas dificuldades motoras são grandes. Então, eu peço que marque, do jeito que souber ou quiser, como uma saída para que comunique o que sabe. Outro recurso é apontar.


Lembrando que no atendimento anterior, trabalhávamos os monossílabos formados pelas vogais. Agora amplio um pouco mais seu conhecimento.

  

O garoto saiu-se bem, identificando logo e com firmeza cada uma das vogais. Por isso, parto para a primeira a apresentação da primeira consoante. A preocupação é a baixa visão, por isso, são grandes e em preto.


Voltando ao caderno, mostro o contorno da letra. Passo cola na parte reta, entrego a ele e ele cola no lugar adequado. Faço o mesmo com a parte que contém os semicírculos e ele cola no lugar. Repito a operação com o “b” minúsculo. Ao terminar a colagem, eu passo o dedo sobre a letra no sentido da escrita e ele repete algumas vezes. Faço o mesmo com a minúscula.


Explico o significado de consoante que é “soar com”, ou seja, fazer um barulho com a boca onde o “B” sai junto com cada uma das vogais. 

 

Logo em seguida, apresento a família silábica. Faço ele repetir várias vezes as combinações possíveis com o alfabeto móvel e pronunciar o som de cada uma. Daqui para a frente, as letras são impressas no maior tamanho possível e na cor preta para maior visibilidade.

Voltando ao caderno, ele faz a leitura da família silábica. Em seguida, peço que aponte aleatoriamente cada uma das sílabas formadas, tanto com as letras maiúsculas que ele conhece, como com as minúsculas que conheceu a pouco.

Na página seguinte, um exercício de ligar as sílabas maiúsculas com suas correspondentes minúsculas. E entretido e concentrado no ligar as sílabas, nem percebe que continua treinando a coordenação motora fina. E vejam como fez direitinho.

Chega o momento de trabalharmos algumas palavras e seu significado, no caso, figuras. Optei por figuras tiradas da internet e impressas porque é um garoto que sai pouco de casa e não sei ainda o que ele conhece. Por outro lado, os desenhos coloridos com lápis ficam claros e poderia ser difícil visualizar e poderia não surtir o efeito desejado.

Começo com uma figura ou duas por página (de preferência), com letras impressas em tamanho grande, em maiúsculas (que ele já conhecia) e a minúscula (que começa a conhecer). Como o caderno é grande, couberam três. Para evitar a má observação da palavra trabalhada, cobri as outras com uma folha em branco.

Ele observou a figura e não sabia o nome. Eu disse que era um boi, e ao lado estava escrito o nome da figura. Rapidamente, ele leu “boi” nas duas formas. E assim foi sucessivamente. Antes de virar a página, ele formou várias vezes cada palavra com o alfabeto móvel. Na página seguinte, mais duas palavras.  Na última figura,  outras palavras com o mesmo significado.

 

TRABALHANDO A SÍLABA INICIAL

E já que ele conseguia deixar marcas, trabalhei a sílaba inicial da seguinte forma. Uma figura maior, com algumas sílabas embaixo, desta vez, só com minúsculas.

 Percebem o risco no "bo"?


Perguntei o nome da figura, ao que ele respondeu “boné”. Então disse-lhe: - Boné começa com “bo”. Onde está o “bo”? e mostro com o dedo as sílabas sob a figura. E com um canetinha, ele marcou a sílaba “bo”. Aproveitei e trabalhei a palavra “aba”, do mesmo modo que boi, baú e babá, usando o alfabeto móvel.

Aproveito também para trabalhar outras palavras que comecem com a família silábica do "B" e fixando outras formas de iniciar uma palavra com essa letra. E sempre trabalhando com o Alfabeto Móvel, montando e separando as letras e as sílabas.

Outro exercício de ligar. Desta vez, para encontrar o nome de duas figuras para três nomes possíveis. E veja como ele acertou direto.


ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA

CONHECENDO O SISTEMA DE NUMERAÇÃO

Sei que ele sabe contar até 10 na ordem e na sequência. No entanto, será que ouviu falar sobre o Sistema de Numeração? É isso que verificarei neste momento.

Usando o Material Dourado e a Visão de Conjunto, ambos são materiais montessorianos.  Coloquei sobre a mesa um cubinho, uma barra e uma placa. Propositadamente, deixei de fora o cubo (que vale 1000 unidades). E nomeei cada um como: unidade (que vale 1), a dezena (que vale 10 cubinhos) e a centena (que vale 100 cubinhos ou 10 barrinhas). E ao dizer o valor de cada peça, ia colocando a visão de conjunto. 

Depois de um tempo de observação, contagem (que se atrapalhou todo ao contar as unidades da centena), perguntas e respostas coerentes, coloquei sobre cada quantidade o material numérico (Visão de Conjunto). Disse que aprenderíamos muito mais que essa quantidade, que ele achava que a centena era muita unidade. E mostro no caderno como fica o material desenhado. E novo exercício de ligar no caderno, desta vez, com quantidades do Sistema Numérico.