quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O DESENHO E O EIXO AFETIVO-EMOCIONAL

O eixo afetivo emocional mostra como as crianças se sentem sobre diversas coisas.  Mas antes, é preciso explicar certas coisas que nos fazem compreender como tudo funciona.

Violet Oaklander(1980) diz que as crianças colocam em suas produções a sua maneira de ver e de sentir as coisas. Carl Gustav Jung (2001) afirma que as produções gráficas (desenhos ou outro recurso artístico qualquer) vêm carregado de imagens mentais originadas nas manipulações e explorações dos objetos e do ambiente que, ao serem assimiladas, estavam carregadas de sensações e emoções que se fixaram nas estruturas cognitivas.

Os dois autores ainda afirmam que as crianças só produzirão, se estiverem envolvidas emocionalmente. A surpresa, o humor, a novidade de um assunto são desencadeadores de emoções, portanto, facilitadores da aprendizagem e da armazenagem das informações.


O medo de constantes repreensões mexe com suas fantasias, faz com que se sintam numa situação de perigo (real ou imaginado) onde aumentando o stress, o que atrapalha a atenção e a concentração provocando uma armazenagem de informações fragmentadas. E em sua produção, a criança sempre expressará esse estado emocional. Portanto, o equilíbrio emocional depende da maneira como a criança lida com suas emoções: se as controla, se as inibe ou se deixa se conduzir por elas.


Muito do que a criança sente, deseja ou necessita pode ser transmitido a alguém por meio de palavras, gestos, escritos etc. Mas, há certos pensamentos, sentimentos, fantasias e conflitos que afetam o equilíbrio infantil e não podem ser ditos com palavras. As palavras, muitas vezes, tornam-se limitadas, apesar de todas as possibilidades que a linguagem possui.
Para Arno Stern a expressão gráfica é a única forma capaz de trazer à tona as questões inconscientes, transformando-as em símbolos, cuja representação, cor, tamanho e localização espacial transmitem uma mensagem ditada por essas inquietações e com regras próprias.
Segundo Arno Stern, os símbolos são imagens de significado convencional e evidente, às quais se dá uma conotação especial. Através dos símbolos contidos nas artes, a expressão constitui uma segunda linguagem, onde a fala do inconsciente completa a linguagem da razão.  Esses símbolos devem ser compreendidos dentro da faixa etária, do estágio de desenvolvimento em que se encontra e dentro de sua capacidade operatória

As fantasias buscam uma organização formal recorrendo, sempre que necessário, à memória ou à imaginação. Ao reviver ou relembrar essas sensações e percepções no “fazer artístico”, o espírito criativo do sujeito pode se aventurar por outros caminhos, expressando um mundo de sentimentos que é só seu, retratando prazeres, dores, instintos, conflitos, pensamentos e emoções que povoam seu mundo interior.
Dessa maneira, as fantasias, os contrastes e as oposições funcionam como “um escudo protetor” permitindo que a criança expresse seus sentimentos e pensamentos sem correr riscos. Por isso, ocultam alguns detalhes ou colocam suas próprias vivências em outro personagem. Portanto, fantasiar é essencial no processo de vida das crianças.
Dizemos que a produção artística fica impregnada “da jeito de ser” do seu criador. Ao produzir artisticamente, a única preocupação da criança é a necessidade de expressar. Lowenfeld (1970) noS lembra que “cada uma das produções artísticas das crianças está repleta de subjetividade, de conhecimentos e de experiências que são lembradas ou recriadas”.

Arno Stern  declara ainda que “cada produção da criança é um espelho”. Espelho que não reflete apenas as aparências, mas que “filtra das aparências, a face interior da criança”, ou seja, a face do seu psiquismo”. Por isso, não há erros numa composição artística infantil. Simplesmente há comunicação.

Por todas estas razões, não basta olharmos apenas um único desenho. Mas, uma série deles. Além disto, há também as histórias orais ou por escrito que as crianças contam e que são levadas em conta no momento da análise dos dados. Só então podemos ter uma idéia do que se passa com a criança.

Os trabalhos que mostro nesta postagem foram o resultado de alguns meses de trabalho, fazendo com que a criança tivesse confiança de se abrir e conseguir falar sobre os problemas que estavam enfrentando.
CONFUSÃO - criança de 9 anos

ÓDIO - criança de 12 anos

DESPREZO - criança de 10 anos

SOLIDÃO E MEDO - criança de 10 anos

ÓDIO E CULPA - criança de 10 anos
Fonte:
OAKLANDER, Violet,"DESCOBRINDO A CRIANÇA", Summus, 1980
JUNG, Carl Gustav. "O ESPÍRITO NA ARTE E NA CIÊNCIA"ed Vozes, 2001
STERN, Arno. EXPRESSÃO.  PORTO,  s.d.

Um comentário:

  1. Sueli, Que trabalho lindo! Parabéns! Acredito que você também conheça a técnica do DE (Desenho estória) de Trinca... Trabalha bem nesse sentido. Quando quero conhecer um pouco mais sobre meus alunos, acaba utilizando o desenho. Muito bom!! Beijos.

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