segunda-feira, 16 de maio de 2011

CRIANÇAS QUE LÊEM O QUE NÃO ESTÁ ESCRITO

Muitos pais e professores ficam inconformados quando pedem que a criança leia, por exemplo a palavra  “CAMA” e a criança lê: “CASA”. Vamos entender o que acontece.
No inicio da alfabetização, tudo é novidade para a criança. Novidade porque ela passa por processos cognitivos que não haviam entrado em ação anteriormente. Processos que, muitas vezes, precisam ser estruturados e organizados para que funcionem normalmente, dependendo dos estímulos, das oportunidades, experiências e vivências que a criança teve. Por isso mesmo, necessitam de uma sistematização. Aprender a ler e a escrever é uma convenção social e, portanto, requer aprendizagem.

Até o inicio da alfabetização, a criança se valia da audição e da memória auditiva em suas aprendizagens. Mas, a leitura requer uma série de habilidades, como as de percepção, memória, cinestesia,e resolução de problemas.

Dentre as habilidades perceptivas, as visuais são imprescindíveis para a leitura. Por isso, não é suficiente ver o objeto. Mas, observar a forma, a posição e os detalhes. Isto é, ver o objeto como um todo.


 As letras possuem pequenas diferenças entre si. Vejam o C e o G; o E e o F; o M e o N; o p,o b, o q e o d, o U e o V. etc. Saber ver os detalhes, a forma e a posição das letras determina duas outras funções cerebrais importantes: a discriminação (ou seja, a distinção das diferenças entre o C ou G, por exemplo) e a identificação (saber qual é o C ou o G) Mas, não basta discriminar e identificar as letras. Precisa ainda observar a seqüência das letras existentes na palavra, a forma dessa seqüência e distingui-la e identificá-la entre outras, que possuem formas semelhantes.

Tudo o que a criança percebe visualmente fica guardado num cantinho do cérebro chamado “memória visual”. Temos uma memória para cada percepção: tátil, motora, gustativa, olfativa. Cada uma dessas memórias tem suas tarefas específicas, mas também trabalham em conjunto, ora completando alguma informação, ora auxiliando nas lembranças delas. E todas juntas, formam a memória geral ou de longa duração. Falaremos dela noutra ocasião.
Ler requer ainda habilidades motoras (cinestesia) dos músculos dos olhos e da boca (se a leitura for oral). Os olhos devem perceber a palavra como um todo e caminhar adiante para que toda a frase seja percebida e para que o cérebro tenha tempo suficiente para planejar a sequência de movimentos que a criança terá que realizar ao ler oralmente, ou a dos olhos, se ler silenciosamente. Deve ainda, saber solucionar problemas que eventualmente apareçam, como controlar a salivação, a respiração, voltar quando errar etc.

Todas estas tarefas, que são invisíveis por se realizarem no interior do cérebro, tendem a se tornarem automáticas. Mas, precisam de treino e de tempo para isso. No início da alfabetização ainda não é possível esse automatismo. Por isso, quando não distinguem ou não identificam a sílaba posterior utilizam um recurso da memória auditiva e falam uma palavra parecida que possui, mais ou menos, a forma da que estava sendo lida.
Pais e professores devem ter um pouco de paciência e não fazer deste engano um drama. Se a criança “inventar” uma outra palavra ao ler, basta pedir que ela observe melhor a palavra escrita.

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